quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Atravessando a rua

Ele parou e, parecendo perdido, começou a bater com a muleta na tampa do bueiro... toc toc toc... Ela vê, passa, mas resolve voltar.
Ela: Oi, quer ajuda para atravessar?
Ele: Quero sim!!!
Ela: Então “enganche” aqui (ajeitando o braço e orientando o dele).
Ele: Obrigado.
Ela: Vamos aproveitar porque o sinal está aberto.
Ele sorri.
Ela: Pronto!! Mas onde o senhor está indo?
Ele: No tubo, preciso pegar o biarticulado que vai para o Cabral.
Ela: Ah! Sei qual é. Quer que eu te acompanhe?
Ele: Claro. Muito obrigado senhora.
Ela: Imagina, é um prazer, mas não me chame de senhora.
Ambos sorri.
Ele: Tá bom, menina. Nem pra todos (é um prazer), só para alguns. As pessoas andam tão estressadas, não é?
Ela: Pois é, é verdade. Acho que é essa vida tão corrida.

Silêncio.

Ela: Se bem que não justifica... 

Silêncio

Ela: Chegamos, agora tem uma escada. Vou subindo e o senhor me acompanha.
Ela sobe o primeiro degrau e ele acompanha com dificuldade.
Ele: Se já não bastasse ser cego ainda tenho que usar essa coisa (muleta) porque fui atropelado. Não é fácil.
Ela abaixa a cabeça e eles terminam de subir.
Ele sorrindo diz: Obrigado menina.
Ela: De nada!
Ele: Boa tarde senhor cobrador!!
Ela retoma o seu caminho e vai para casa.




Pode ter parecido muito pouco para alguns, um gesto insignificante para outros, mas teve um significado enorme pra mim. Provavelmente nunca mais verei esse senhor, entretanto o que aprendi nesse pouco tempo levarei comigo.

Ele só queria chegar do outro lado da rua... Ele só precisava que alguém o “enganchasse” no braço para facilitar seu caminho. Não parece algo totalmente simples e possível para qualquer um?
E qual será a relação entre o estresse de alguém e o atropelamento dele? Houve, não houve? Nunca saberei...

Ele me mostrou que seria tão bom se deixássemos um pouco de lado o nosso estresse para olhar mais para o todo... Para o outro... Que seria maravilhoso se pudéssemos ver que não precisa de muito pra fazer algo de bom para alguém. 


Na realidade, foi ele quem ajudou.




Shalom...

2 comentários:

  1. Como dizem, quando fazemos algo de bom por alguém os maiores beneficiados somos nós!

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  2. Sempre fica um pouco de perfume nas mãos que oferecem rosas!

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